figurinhas (R)

Todo mundo conhece alguém de quem vai lembrar pro resto da vida. Figuras carimbadas e batidas do nosso cotidiano, mas que de certa maneira nos chamaram a atenção com características simples da sua personalidade.

Comigo, tais figuras ficaram na lembrança mais pelo seu jeito jocoso do que por outras qualidades. Afinal de contas, os toscos são mesmo memoráveis e eu faço parte desse seleto grupinho.



***


*Jarbas (vulgo “Dom Diego Maradona”, “7 horas” ou “El Matador”)

Figura lendária do conjunto em que moro. Ninguém sabe ao certo a sua idade. Uns dizem que é 30 e uns quebrados. Ele afirma que são 33, mas na verdade todos sabem que o cara está pra lá da metade dos 40. Paraense nato.

O apelido Maradona foi por causa da sua habilidade na pelada.

“7 horas” é pq com qualquer pessoa que ele marca algum encontro era invariavelmente nesse horário.

E o cara era literalmente “matador”, pois não deixava passar NENHUMA mina em branco. Dava em cima de todas, e das maneiras mais pitorescas possíveis.:

“Oi. Posso lhe acompanhar até o fim da rua?”

“Como vc se sente pela morte do Airton Senna?”
(na época o piloto em questão tinha morrido a uns 10 meses atrás)

“Vc é Flamengo ou Vasco?”
(se for em época de Boi*: “Vc é Garantido ou Caprichoso?”)

“Tá quente, né?” (de noite)

“Como foi o seu Natal?”
(em meados de abril)

...e por aí vai. Existem várias estórias sobre ele.

Porém o mais engraçado, eram os seus tiques e manias, tipo: não tomar sol em hipótese alguma, andar pra cima e pra baixo com uma Super Interessante de 1992 (pra puxar papo sobre as “inovações tecnológicas” da nossa época), usar óculos escuros de noite e em dias nublados, usar jaquetas de couro sem camisa, “sair do ar” no meio de uma conversa, usar celular de brinquedo que imita aqueles que tiram foto, andar com chave de carro (embora ele não tenha nem bicicleta), caneta e bloquinho de anotações (pra pegar cel. das “gatas”), coçar o saco, esfregar os olhos e cuspir ao mesmo tempo, enfim essas coisinhas meigas...

Grande camarada! Adoro ele.

*Jr (vulgo Juninho binho, bagaceiro, “Junior da Bahia” ou “Edgala”)

“EDGAR é o nome dele!!!!”

Esse era daqueles que gostavam de narrar a si próprios quando faziam estripulias em campo. Também tinha uma admiração incontrolável por belezas “exóticas”

Contei uma passagem que tive com ele aqui. Sob o pseudônimo de “bagaceiro”. Morava na rua de casa junto com um primo mais velho e a avó setuagenária.

O cara trabalhou com meu pai durante um tempo. Típico malandro, mentia com uma facilidade incrível, coisa que acabou lhe rendendo três bilhetes azuis e algumas juras de morte.

Saiu daqui deixando uma dívida de R$ 700 pilas com um “melhor amigo” nosso. Apesar do retrospecto negativo, o cara era bastante sociável. Lembro que certa vez ele me chamou pra ir vê-lo cantar numa cidade do interior (banda “Explosão do Forró”)

Como na época eu tava encarnado no meu espírito de mochileiro acabei indo.

“Mas chegando lá, como vou saber onde vc mora?” – perguntei
“Não se preocupe! Na cidade todos conhecem o Jr. da Bahia!” – ele respondeu

Chegando lá no tal interior, vi que a afirmação não tinha nada de verdadeira.

Fora que começou a chover e ninguém sabia onde era a porra da casa do cara. Nem tinham ouvido falar dele. “Sorte” que eu sabia o nome da bodega onde eles iam se apresentar.

Resultado? Peguei gripe e acabei assistindo ao “show” com mais meleca na garganta do que outra coisa.

Mas foi legal vê-lo cantar igual a um misto de Xororó com Lairton do teclados, com direito a calça de couro preta e cabelo tingido de prata pra uma platéia enorme de 13 pessoas.

Dizem as lendas que ele atualmente reside em algum trecho entre Manaus e Iranduba. Mas é melhor que as coisas fiquem no anonimato pra evitar algum “melhor amigo” que porventura queira cobrar a famigerada dívida de 700 paus.

*Fábio (vulgo Shakma)

Escola Técnica – 2º Grau, 1996

Olha, eu não tenho nada contra evangélicos ou qualquer outro tipo de religião.

Só não suporto os crentes malas! Esse era o caso deste cidadão que atendia pela alcunha de Shakma – a fera assassina (vide o filme que passava no Cine Trash do Zé do Caixão, lembram?), pois é o rapaz tinha cara de babuíno.

Mas isso não é defeito, eu tenho cara de burro e sou muito feliz. O que incomodava mesmo era a sua aversão a tudo que era “do mundo”. Por exemplo: fotinhos inocentes de meninas desnudas ou papos mais “calientes” que beiravam a pornografia, sabe né? Típica conversa de moleque de 15 anos...

E como nessa idade os moleques só falam de sacanagem, imaginem como sacaneavam o rapaz por causa disso. Bem, na verdade começaram a sacanea-lo depois dele ter se metido a dar sermão pra gente. Pra que? Caíram em cima do infeliz até o ultimo ano.

Uma vez um dos alunos mais afoitos, achando que o cara era biba começou a molestá-lo. Brincadeira de mau gosto, eu sei. Mas em vez do “menino virgem” (virtude que exaltava aos 4 cantos) se defender como homem, preferiu ir chamar o coordenador das salas para punir o “tarado”.

AHAHA! A cena foi hilária! O coordenador chegando na sala de aula e perguntando em altos brados:

“QUEM É QUE QUER COMER O MENINO AQUI ???”

Putz...

Depois surgiram diversas teorias sobre como ele deveria ter chegado na coordenação e relatado o fato, tipo: “Fulano! Tem um cara querendo me comer na sala!”

Putz...

E da vez em que ele pediu um caderno emprestado? E qual foi a sua surpresa ao ver que na contracapa do caderno havia fotos de Sex Novel? E olha que isso não foi armado, o dono do caderno era chegado a essas novelinhas.

Putz...

*Haroldo (vulgo cimento, índio ou “wiínho”)

Tratava-se de um puta cabocão**, primo do Jr.

Devia ter entre os seus 24 ou 26 anos. Gostava de jogar bola com a gurizada (a gente). Ainda mais pelo fato de poder trucidar quem se metesse a besta com ele. Era um João ninguém na verdade. Valentão e fanho!

Daí o seu apelido: “wiínho”. Esse apelido surgiu de maneira cômica.

Contam que uma vez batendo uma pelada em um campo alheio ele se desentendeu com um outro gigante. Só que o nosso renomado fanho era um molenga que só batia em moleque (a gente!) e quando se deparava com algum ser a sua altura, tremia igual vara verde.

O outro maceta*** lá não fez por menos: Aplicou uma surra hercúlea no índio e quando este estava quase desmaiado no chão ele disse o seguinte:

“seu caboco nojento! Pra eu não te massacrar de vez agora vc vai dizer que eu sou bonitinho!”

Porra! Com a boca toda estourada e sendo fanho, vcs imaginam o que o Haroldo falou:

“Tã bom gara! Tu é wiínho, tu é wiínho!”

Em outra briga, ele saiu correndo pra casa e trouxe uma peixeira toda enferrujada pra tentar acertar o cara. O bagaceiro (Jr.) que estava na torcida gritou:

“Pô Haroldo! Larga a faca da vovó! É a única que a gente tem em casa!”

Após tantas brigas. O nosso wiínho resolveu se comportar e entrar pra PM. Agora ele pode descer o sarrafo em qualquer um com apoio da Lei.

Ah! Ele casou tmb...

Contam que ele brigou umas 30 vezes lá pelo conjunto e adjacências. Apanhou em 29 e uma ele empatou com a mulher...



***


Já está bom por aqui... Outro dia eu falo dos outros.



* Boi – festa folclórica originaria de Parintins
** Cabocão ou caboco – forma popular de dizer caboclo. Elemento resultante da mistura do índio com o branco. O aumentativo representa um cara grande ou muito forte.
*** Maceta –Quer dizer “grande”, “enorme”, “gigante”

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