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Eu não toco isso, apenas arranho...

Nos idos de 98 comecei a reparar na mágica que a música trazia, e como não poderia deixar de ser comprei logo um exemplar do instrumento mais popular de todos os tempos.

Demorei meses pra tirar algum som decente do bicho, mas lá pelo fim do ano já dava pra ficar perdendo tempo à noite.

O auge da empolgação (considero certas paixões mais como empolgação do que outra coisa) foi em 2001 e 2002. Nesses dois anos eu “toquei”, se é que se pode dizer isso, em praticamente todo o circuito badalado da cidade: calçada da minha casa, aniversário de criança, pracinha do Conjunto, lual no meio do mato, esquina com os maconheiros, bar com coroas bêbados, banco de trás de Fiat Uno, enfim...

Porém eu tenho uma limitação (bah! várias...): não sei, não consigo, não tenho fôlego pra cantar. Já tive, mas aos 18 contrai uma gripe muito forte e babau voz. A solução foi arranjar alguém que saiba “cantar”, bem, ou que não tivesse vergonha pelo menos.

Eis que a solução surge na figura de um velho amigo nosso. Sabe aqueles caras que sempre foram totalmente porra loucas e que não satisfeitos em curtir a adolescência com o seus amigos, resolvem curti-la tmb ao lado dos irmãos mais novos destes mesmos amigos??? Pois é...

Não vou botar o nome dele aqui, mas posso dizer o que seu apelido era Loucura, o que já diz bastante coisa. Na verdade eu o chamava de Engenho, pois o cara consumia cana como tal.

Numa quinta feira véspera de feriado, estávamos todos tomando vinho (era nossa bebida oficial de seresta) e “tocando” em frente a casa da vizinha. O filho dela gostava de violão e estava querendo aprender a arranhar com mais qualidade (coitado!).

Definitivamente qualidade era uma coisa que não tínhamos, eu por exemplo mal sabia fazer pestana* e meus conhecimentos técnicos se resumiam aos acordes básicos e a leitura de revistinhas...

Já o Engenho gostava de rock dos anos 80, MPB e algumas música de flashback.. Ouvi-lo cantar era hilário, ainda mais pq ele era um discípulo aplicado da enrolation in english (não sabia cantar nem Happy Birthday to you), além de ser desafinado pacas, se bem que...

...quem consegue ser afinado estando totalmente bêbado?

Eu comecei a tocar essas musicas simples de levar no violão: Legião, Paralamas, algumas internacionais, tipo, Metallica e Nirvana (o baixo de “Come as you are” é a coisa mais manjada que existe) e por aí vai.

Só que depois de um certo tempo, eu já estava enjoando de tudo aquilo. Tentei tocar MPB, mas é difícil pra burro e não empolgava. Só sei que cheguei numa fase em que tocava desde “A mais pedida” dos Raimundos até “A volta do Boêmio” de Nelson Gonçalves. Trash total!

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Voltando a quinta feira...

Eu estava só um pouquinho alto. O Engenho já devia estar em Marte ou Plutão, o filho a vizinha que se chamava Emanuel (haha! Ele é evangélico hj) tava tão ébrio que ria de qualquer coisa. Não parava de rir o desgraçado! Parecia até que tinha fumado o baseado do Coringa...

Pois bem, já estávamos no 3º garrafão de vinho Dom Bosco, o velho sangue de boi, quando passou um desses carrinhos de playboy (Honda Civic ou Vectra) com um funk nas alturas.

O Engenho que estava mijando atrás das plantas da vizinha, não tinha mais o que fazer e mexeu com o cara:

“Viadinho! Vai escutar um som que preste! E abaixa essa porra! Ninguém aqui precisa saber que vc tem mau gosto!!!”

Pra que? Tá certo que já era a quinta vez que o maldgito passava com o som arrebentando os nosso tímpanos e o bom gosto, mas porra! gosto é gosto! E pouco me importa se o dele era ruim e o nosso era tosco. Porém, o cara deu uma ré...

“Como é que é?” - gritou

“...” – eu

“HAHAHA!” - Emanuel

“É isso mesmo seu playboyzim! Não passa mais aqui tocando essa merda!” – respondeu o Engenho protegido pela folhagem do quintal da Dona Inês.

O pior é que o cara era enorme! E tava achando que era eu e o Emanuel que estávamos mexendo com ele, visto que, da rua não dava pra ver o Engenho bêbado e com o pau pra fora proferindo tais impropérios...

“Esperem aí! Não saiam daí!” - gritou ameaçador!

E foi embora a mais de mil...

“Tá doido seu fdp??? Engenho caralho! Pra que tu mexeu com o cara??? Agora ele vai voltar e a gente vai apanhar que nem cachorro leproso!” – falei

“Não esquenta. Ele é só um e nós somos três...” – o Engenho retruca

“HAHAHA” – Emanuel

“E se ele voltar acompanhado???” – insisti

“Eu conheço aquele cara, na certa ele vai vir com um monte desses manés que fazem Jiujitsu e essas viadagens de ficar se agarrando com macho...”- ele gozava

“HAHAHA” – Emanuel

“Caralho... tamo fudido” – sentenciei

“HAHAHA” – Emanuel

“Tamo nada! Esses caras de academia só tem arranque. Mas se bem me lembro eles não virão só com punhos e músculos anabolizados, certamente trarão algum brinquedinho pra dar uns tecos na gente...” – ele respondia tranqüilo

“HAHAHA” – Emanuel

“...além de quebrarem tudo, como de praxe. Se eu fosse vc iria logo guardar essa viola.” – continuou

“HAHAHA” – Emanuel

“Pô! Mas e as biritas?” – perguntei

“HAHAHA, zZzZ, hihihi, err... é, e as biritas como fica? Eu não posso guarda-las em casa. Mamãe me mata” – Emanuel finalmente se manifestava

“Nem eu” – completei

“Ah! Vamos tomar tudo agora, ou então esconder no mato, senão eles vem e vão querer tomar da gente” – Engenho explicou

“...” – Emanuel

“Sério?” – indaguei

“Sério, pô! Se a gente estivesse fumando eles iriam querer tomar o fumo. Sabe né? Espólios de guerra” – Engenho disse

“Grrr... na birita eles não mexe!!!” – bravejou Emanuel

Então decidimos ficar por uma causa nobre. A defesa dos garrafões de vinho!

Uns quinze minutos depois. O carro retorna

“Olha, se vcs quiserem dar o fora podem ir. Fui eu quem começou essa parada e eu posso resolver. Sem ressentimentos” – Engenho falou nas ultimas

“Que é isso cara? Tá certo que foi tu quem mexeu com o cara, mas estamos nisso juntos” – retruquei. Tá, tava me cagando nas calças, mas não podia deixar o cara na mão.

“HAHA, Er... ZzZ, além do que... nas birita eles... não vão meter o dedo não...” – Emanuel fazia a sua jura

O carro encosta junto ao meio fio. E descem um, dois, três, quatro, cinco filhos de Gracie! Com orelhas de repolho, canelas finas e tudo o mais...

Desce tmb o playboy ofendido. Putz! Fora do carro ele parece ainda maior...

“Porra! são seis! Acho que dessa vez fudeo” – murmurei pro Emanuel

“HAHA..eerr... hic, pode ser, mas nas birita eles não vão pegar...” – Emanuel o guerreiro!

“Porra!!! é tu LOUCURA???” – o playboy se surpreende

“É claro, sua bicha!” – Engenho responde

E os dois começam a se abraçar e xingar mutuamente.

Que porra foi essa?



Bem, resumindo: O Engenho conhecia o cara. Alias, disse que ele não era de nada mesmo e por isso teve que chamar os seus amiguinhos bombados. Ah sim! Eles realmente tinham trazido um brinquedinho, niquelado e de calibre 44 pra ser mais exato...

Depois de feitas todas as explicações os caras foram embora. Disseram que nos acharam muito “gente boa” e que na próxima não iriam passar mais com som alto pela nossa rua. Essa eu não entendi, mas deixa pra lá...



O Engenho tmb se tocou da merda que tinha feito e pediu desculpas pra gente e pra Dona Inês que tinha acordado com todo esse barulho. Ela tmb queria saber por que diabos o seu filho estava rindo daquele jeito, logo ele que era um menino tão quieto.

Quanto as biritas (vulgo vinho barato) nós as tínhamos escondido previamente, antes da Dona Inês aparecer. No outro dia eu e Engenho, terminamos de toma-las, lembrando e rindo (muito) do que tinha acontecido na noite passada. Pena que o Emanuel chegou tarde e só pegou um restinho...



Dessa vez ele não tinha motivo pra rir...

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Por que esse post se chama Django?

Ué? É por que esse é o nome de batismo da minha viola!


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“Boemia, aqui me tens de regresso
E suplicante te peço a minha nova inscrição
Voltei pra rever os amigos que um dia
Eu deixei a chorar de alegria, me acompanha o meu violão”


*é aquele artificio que se utiliza
em algumas notas como Fá, Si ou Sol,
e que consiste em apertar todas ou a
maioria das cordas com a lateral do dedo.
É o terror de todos os iniciantes em violão

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