convenções lingüísticas

é... meu velho sempre me faz passar por algumas situações constrangedoras

Ele chegou da Argentina há uns 20 anos e ainda mantém o sotaque de lá. Que misturando com sotaque brasileiro (mais especificamente o amazonense), acabou gerando uma língua latino-ibérica-cabocla de difícil compreensão...

Minha mãe conta que quando o conheceu ele ainda estava em vias de criar essa nova língua.

Algumas frases ficaram famosas:

"Que lora tem?" - era uma indagação a respeito do horário, ficava engraçado quando ele perguntava isso pra alguma loira na rua.

"Boçe tá bem?" , "Boçe tá legal?" - uma gentil pergunta que ele fazia aos amigos quando os via pra baixo, porém, juntando as sílabas a palavra soa como "buceta bem" ou "buceta legal", coisa que acabou em saia justa com alguns puritanos desavisados.

Fora as palavras e expressões do castelhano popular que quando misturadas ao português criam confusão, como quando ele se referia aos carecas como "pelados", quando dizia "rojo" em vez de vermelho ou "embaraçada" pra alguma grávida (teve uma que ficou ofendida, pois achou que ele tinha dito que ela estava arrependida de ter engravidado)

Mas um dia ele veio com a maior de todas, e não teve nada a ver com o idioma

No CPD onde trabalhamos, o piso é de PVC pré-moldado, logo, por debaixo dele passa uma infinidade de cabos que alimentam os computadores. Pois bem, para retirar a lajotas de PVC utilizamos um extrator de piso, que funciona com o mesmo principio do desentupidor de pia, por sucção.

extrator de piso

Como o papi é adepto as convenções lingüísticas, achou que ficava muito feio e difícil chamar tão útil ferramenta de "extrator de piso", preferiu chama-la pelo singelo apelido de "chupeta". Ele diz que era assim que se chama na Argentina.

Pois bem, um dia eu tinha pego a "chupeta" para poder extrair os pisos da sala ao lado e acabei esquecendo-a por lá. Depois de um certo tempo o papi volta colérico dizendo que precisa da chupeta para retirar um piso e posicionar um cabo. Começa a procura, e nada de eu lembrar onde tinha colocado a bendita chupeta.

Eis que me chamam pra efetuar outro serviço e acabo deixando a procura nas suas mãos.

Putz! Pra quê?

Meia hora depois, no Mezanino onde fica o setor de Administração:

Toca o ramal. Uma das meninas atende (no setor predomina o sexo feminino) o telefone no viva-voz...

"Alô! Seby? PQP! CADÊ A PORRA DA MINHA CHUPETA???"

...silêncio no ambiente.

"Escuta! yo quiero a minha chupeta agora! Ou vc vem e faz una agora pra eu poder trabajar ou entom arruma alguien que me faça una chupeta, pq eu tô precisando de una chupeta! Entom vem logo! Yo nom posso trabajar sem a minha chupeta!"

Saio do local mais vermelho que pimentão... Muitos lá não acreditam que eu seja filho dele (mais por questões físicas, aparência) e depois de ouvirem o cara me obrigando pedindo pra trazer alguém que faça uma "chupeta" pra ele ou pra eu mesmo fazer...

...creio levemente que eles acham que eu sou na verdade outra coisa.
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QUE LOS PARÉOS!!! Maldgita Convenção lingüística!!!!

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