noite na toca
Todos os fins de semana a infeliz certeza”
Saídas noturnas...
Existe um local em Manaus que em tempos idos tinha sido o lar de todos os que curtiam beber umas e outras embalados aos clássicos do bom e velho rock.
Mas como tudo que é bom dura pouco, logo ele estava fechando. Motivo? Falência...
É que o publico rocker daqui não era grande o suficiente pra sustentar uma casa daquele tipo.
O tempo passa. Durante alguns meses o povo underground da cidade passa a explorar novos ambientes. Mas a saudade do velho, enfumaçado e etílico lugar permanece viva na memória.
Os antigos freqüentadores se perguntam se um dia ele voltará a existir. E para alegria geral destes poucos, alguns meses mais tarde é dada a noticia da sua (re)inauguração.
Todos voltam como filhos pródigos para aquela que tinha sido a matriz de suas boêmias.
A principio eles não notam que o ar estava diferente por lá. E não estou falando de nenhum tipo de baseado novo...
Nessa época estava ocorrendo o estouro do roque (não confundir com rock) nacional e das baladinhas chorosas teens internacionais . As bandas como Pitty, Capital Inicial, CPM22, Charlie Brown Jr. e do famigerado rapper-samba-funk-rocker D2, faziam sucesso nas rádios.
Fora as bandinhas que dominavam a parte internacional da programação: Hoobastank, Evanescence, Nigthwish, Avril Lavinge, Good Charllote, Blink 186, Linkin Park e similares, que nem são tão ruins assim, mas que de uns tempos pra cá andam soando pop e adolescentes demais.
Pois bem, o dono do local que não é bobo nem nada (detesto essa expressão, mas ela define bem) resolve adicionar o repertório de tais bandas à set list das noites. Visava (é claro!) atrair outras tribos, outras pessoas que viessem contribuir ($$) para a prosperidade da antiga “casa dos roqueiros de Manaus”.
Eis que o novo publico começa comparecer em massa. Que são eles? Bem, são aqueles que não ligam se é rock ou roque, que mal sabem a diferença entre Bon Jovi e Nirvana, que estão ali apenas “pra curtir a night, huhú!”, que gostam de se vestir bem, que não bebem cerveja barata e nem fumam cigarro de pobre, que se por acaso vc esbarrar em um deles se prepare que pode dar briga...
...sim! os playboys invadiram o local.
E como é característica dessa tribo, divulgaram pra todos os seus miguxos e passaram a bater ponto lá. Todos os finais de semana.
Deve ter sido uma beleza para as finanças, porém, o publico mais antigo quis a morte...
Tudo bem! Sabemos que todos tem o direito de ir e vir neste país, mas o problema é que onde estes seres chegam, eles conseguem transformar o local num antro poser, fútil e... caro! Faz parte da lógica do mercado, se o povo que freqüenta tem condições de pagar, então pq não aumentar os preços?
Se fosse só isso ainda daria pra levar...
O problema todo é que cometeram o sacrilégio de mudarem o essencial do local: O SOM!
Então:
No lugar do Led, entrou CPM22.
Sai Nirvana, entra Charlie Brow Jr.
Placebo? Não! Ninguém ouve alternativo. Bota Evanescence pra tocar, o pessoal gosta e é conhecido...
Nem pense em Metallica. E se pensar, toque apenas as mais manjadas famosas
O povo não entende o que Thom Yorke diz. Se for pra tocar deprê, então bota Hoosbastank com “The Reason” pra todas as menininhas gritarem: “Ahhh! Essa é minha música!!!”
The Who, Deep Purple, The Doors, Motorhead, Soundgarden, AC/DC, Ramones, Green Day, Stereophonics, Pixels, Pearl Jam, Blur, Manic Street Preachers, P.J. Harvey, U2, Foo Fighters, etc. e etc...
Pra que tudo isso? Bota o que tiver na rádio e pronto. Sucesso garantido!
Massificação pop. Enfiam o grude na sua goela e empurram de com força...
Em todas a grandes cidades existem as mais variadas opções pros mais variados gostos e bolsos. Pq aqui tem que ser diferente?
Alguns leigos acham que as tribos urbanas são barristas. Mas na verdade eles apenas querem preservar as coisas que lhes agradam. Então surgem locais cada vez mais específicos para cada tipo de publico. Fascismo? Nem tanto. Se vc parar pra pensar no mingau globalizado que se transformou a vida social, verá que cada vez mais as pessoas tendem a procurar seus semelhantes. Seja em gostos musicais, esportes, diversão ou trabalho...
Parece até um efeito contrario a essa tendência de globalizar tudo. Quanto mais tentam nos aproximar na marra, mais as diferenças ficam patentes.
Quanto ao local citado ao longo do post, eu espero que um dia as coisas voltem a ser como eram antes. Se bem que esse meu saudosismo barato é muito ingênuo, visto que a tendência é massificar ainda mais e mais em busca de grana, fama e “progresso”
Mesmo que esse “progresso” seja as custas daqueles que prestigiaram primeiramente aquela bodega. Mas isso não importa. O importante é que sábado que vem o local estará novamente lotado, com todos cantando:
To change who I used to be
A reason to start over new
And the reason is yoooooou...!”
...pela milésima vez e achando legal. É... talvez até eu esteja por lá, afinal de contas: ficar na Internet sábado a noite não é das coisas mais excitantes pra se fazer e sempre existem os amigos.
Mesmo que todo o exterior se repita add nausean
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